No artigo A Família de Miloca, escrevemos sobre sua mãe, Anna Alvarenga Bahia, a Don’Anna, que viveu na Fazenda da Cachoeira de Cima em Maravilhas, Pitangui, MG, e, depois de ficar viúva, mudou-se para Pedro Leopoldo. Mencionamos o nome de cinco irmãos de Don’Anna que apareciam em um álbum de fotos da família. O que sabíamos na ocasião era pouco mais que isso. Tudo mudou quando a prima Ana Lúcia Bahia leu o artigo e entrou em contato. Com a sua inestimável colaboração e a generosidade dos primos de Bambuí, MG, descobrimos que muitos irmãos de Don’Anna se mudaram para esta cidade e lá constituíram família, gerando muitos descendentes. Neste artigo, contamos a sua história com base em relatos dos descendentes, fotografias e documentos encontrados. Agradecemos também ao Senhor Lindiomar Silva que nos deu permissão para reproduzir fotos do seu acervo no artigo e colaborou com informações sobre os Bahia da Rocha.
Don’Anna teve pelo menos três irmãs e cinco irmãos. As irmãs: Thereza Bahia de Jesus, Genoveva Bahia da Cunha e Inhá (da qual só temos o apelido em uma fotografia). As duas primeiras permaneceram solteiras, e sabe-se que Genoveva residiu algum tempo em Pedro Leopoldo. Seus nomes aparecem em assentos de batismo da família como madrinhas. Os irmãos: Manoel, batizado em 1839, Inácio Joaquim Bahia da Cunha, nascido por volta de 1843, José Bahia da Rocha, João Bahia da Rocha e Francisco Bahia da Rocha Sobrinho. Escolhemos a ordem pelo nascimento do primeiro filho conhecido de cada um, já que temos poucos dados sobre o nascimento dos irmãos de Don’Anna. Percebemos alguma variação nos sobrenomes. Inácio pode ter recebido o Cunha em homenagem a seu avô, o Sargento Mor Ignacio Joaquim da Cunha. Por sua vez, Francisco era sobrinho de Francisco Bahia da Rocha, o Major Bahia, político de remome em Pitangui, o que explica seu sobrenome.
Nos diversos ramos da família Bahia da Rocha encontramos a repetição dos pre-nomes José, Francisco e Manoel. Estes eram os nomes dos patriarcas. Isto gerou diversos sobrenomes em que Filho, Sobrinho ou Júnior é aposto ao Bahia da Rocha. Na ocasião, poucas filhas recebiam o nome da família. Muitas recebiam nomes religiosos, como ‘de Jesus’, ‘da Anunciação’, etc. Por isso, mantivemos apenas os primeiros nomes quando não há evidência que indique seus nomes completos.
Dois irmãos Bahia da Rocha constam da lista de voluntários que se alistaram para a Guerra do Paraguai, que durou de 1864 a 1870. Na lista de alistamentos em Pitangui, MG, com data de 7 de Fevereiro a 21 de Março de 1865, encontramos Ignácio Joaquim Bahia da Cunha e José Bahia da Rocha.
Inácio Joaquim Bahia da Cunha foi Escrivão de Órfãos em Bambuí a partir de 1886. Uma pesquisa na Internet revela diversos despachos seus. Um obituário publicado no jornal ‘O Pharol’, de Bambuí, em 18 de Abril de 1919 (Cópia gentilmente cedida por Lindiomar da Silva) nos revela muito sobre sua vida e descendentes.
Inácio casou-se com Júlia Maria da Caridade em Bom Despacho, MG, e deste casamento nasceram Aurora Bahia de Jesus, Antônia Gontijo, Inácio Bahia Filho, Manoel Bahia Gontijo, Gerson em 1882, Afonso em 1884, Júlia da Caridade Gontijo em 1885, Floricena em 1887, Maria Blandina, Francisca Bahia Gontijo, Amélia, Luiza e Porcina Bahia da Cunha (mesmo nome da avó) em 1894. Pelos sobrenomes dos filhos, e dos seus padrinhos nos assentos de batismos, inferimos que Júlia Maria da Caridade era da família Gontijo. Os primeiros filhos nasceram e foram batizados em Bom Despacho. A partir de Floricena, os batizados passam a ser feitos em Bambuí. Inácio Joaquim faleceu a 10 de Abril de 1919, aos 76 anos, cerca de dois anos após ficar viúvo de Júlia Maria. Pelo obituário, o enlace teria durado quarenta anos, ou seja, o matrimônio deve ter ocorrido antes de 1877.
Aurora Bahia de Jesus (ou da Cunha) já estava viúva de Aprígio Thomas da Silva em 1890, quando casou-se novamente com Manoel Indelécio de Macedo. Antônia casou-se com Ranulpho de Magalhães. Ignacio Bahia Filho casou-se com Maria de Mello. Manoel Bahia Gontijo casou-se com Maria José Chaves. Júlia da Caridade casou-se com seu primo, Luiz Gonzaga Bahia, irmão de Manoel Bahia da Rocha, que se casou com Floricena. Os dois irmãos eram filhos de João Bahia da Rocha. Maria Blandina Bahia casou-se em Janeiro de 1908 com Ozório Mendes. Francisca casou-se em Janeiro de 1911 com José Furtado de Oliveira. Amélia casou-se com Joaquim de Castro, e Luiza estava viúva de José Luiz Porto em 1919.
Dos filhos de Inácio Joaquim, Gerson, Afonso e Porcina não são mencionados no seu obituário. Podem ter falecido jovens.
Quem seria Rita Porcina Bahia da Rocha?
Nos assentos de batismo em Bom Despacho, um casal aparece em 1882, 1883 e 1886, época em que também nasciam os filhos de Inácio e Júlia: Antônio Theodoro Gontijo e Rita Bahia da Rocha. Pelo sobrenome e pelos padrinhos em cada batizado, inferimos que Rita era irmã de Inácio Joaquim. Seria ela a Inhá da fotografia?
José Bahia da Rocha casou-se com Maria Christina de Campos, que supomos ser filha do Tenente Coronel José do Egypto de Campos e Dona Maria Cândida de Campos, por diversos indícios encontrados nos assentos de batismo dos filhos de José e Maria Christina. Deste casamento, nasceram José Bahia da Rocha Filho em 1880, duas filhas com nome Maria, em 1883 e 1884, Manoel Bahia da Rocha em 1886, Rosa em 1888, Joaquim Bahia da Rocha em 1891 e Antônio Bahia de Campos em 1902.
José Bahia da Rocha Filho casou-se com Maria Porcina (tia Cina), sua prima, filha de João Bahia da Rocha. Não se sabe se foi por esta consanguinidade, mas alguns filhos do casal nasceram surdos.
Deste último casamento, temos o registro de sete filhos: Pedro, Maria de Lourdes, Afonso, Geraldo, Esteva, Paulo e Josafá.
João Bahia da Rocha foi rábula (advogado) e casou-se com Constância Angélica de Campos, filha de José do Egypto de Campos e Maria Cândida já mencionados. A fonte desta informação é a declaração de Ana Lúcia Bahia, descendente direta de João. Seus filhos: Francisco Bahia da Rocha, de 1885, Luiz Gonzaga, Maria Porcina, de 1887, Manoel, João Bahia da Rocha Filho, nascido em 1889, Tito Bahia da Rocha, de 1891, Cornélia Augusta Bahia (Guimarães), de 1893, Padre Symphronio Bahia da Rocha, nascido em 1896 e matriculado no Seminário do Caraça em 1913.
Por contribuição de Geraldo Magela, obtivemos recortes da Publicação religiosa A Luz, onde constam notas de falecimento de Constância e de João Bahia da Rocha, com apenas dez dias de intervalo entre as duas.
“Ano XI – 22.06.1933 – Nº284
Fallecimento
Em Bambuhy falleceu a 19 do corrente a exma. snra. D. Constância Bahia, esposa do sr. João Bahia da Rocha, digna progenitora do rvmo. Pe. Symphronio Bahia da Rocha, por cujo intermédio apresentamos à família enlutada sentidos pesames.”
“Ano XI – A Luz, Cidade de Luz (Minas) 6 de Julho de 1933 – Num.286
Fallecimento
Falleceu em Bambuhy, dia 29 i Sr. João Bahia da Rocha, pae do rvmo. Pe. Symphronio Bahia. Á família enlutada nossos sinceros pêsames.”
Francisco Bahia da Rocha Sobrinho casou-se com Ambrosina Carolina Dias de Carvalho, filha de José dias de Oliveira e Carolina Maria de Jesus, em 14 de Setembro de 1887 em Bambuí, MG. Deste casamento, nasceram: José Bahia de Carvalho (ou Bahia Sobrinho) em 1888, Maria, Anna, Joaquim em 1894, Manoel em 1896, João Batista em 1898, Francisco em 1900, Benedicto em 1902, Porcina em 1904 e Antônio em 1906. Quase todos receberam o sobrenome Bahia de Carvalho. Estas informações vêm de um relato de Ivone Bahia, descendente de Francisco e Ambrosina.
Ocorreu com Francisco um fato curioso. Em um jornal da época, foi publicado o seguinte:
“Declaração – Faço sciente ao publico em geral que, ha- vendo assignaturas egoaes à minha, em Iogar de me assignar Francisco Bahia da Rocha Sobrinho de ora em deante assigno-me Francisco Neves da Rocha. O que affirmo – Bambuhy, 27 de agosto de 1898 – Francisco Neves da Rocha”
De fato, a troca de nome aparece no assento de batismo do filho João Batista em 25 de Outubro de 1998. Indagada sobre o fato, Ivone Bahia respondeu que isto ocorreu porque Francisco brigou com o irmão João. Sem outra fonte, tentamos aqui especular: João Bahia da Rocha deu o nome de Francisco a seu filho nascido em 1885. Em 1898, este filho já se tornava um rapaz, e, provavelmente foi escolhido para ele o sobrenome Bahia da Rocha, ou Bahia da Rocha Sobrinho, criando um homônimo. Pode ser que tenha sido esta a causa da desavença entre os irmãos. No batizado do filho Benedito, em Janeiro de 1903, Francisco já voltara a utilizar seu sobrenome original.
As descendência de João Bahia da Rocha
Dos filhos de João e Constância, sabemos que Cornélia Augusta casou-se com Samuel Pereira Guimarães, com quem teve os filhos: Samuel Filho em 1922, Rosalina em 1925, João (Zizico), Neli, Constância (Tancinha), Ana Maria, Nair e José (Zé de Samuel). Após o casamento, Cornélia passou a assinar Cornélia Bahia Guimarães.
Manoel e Luiz Gonzaga casaram-se com as primas, filhas de Inácio Joaquim, como já foi mencionado.
Um dos filhos de João e Constância tornou-se padre. Segundo relato de José Aloise Bahia: “Padre Sinfrônio Bahia da Rocha encontra-se sepultado em Santo Antônio do Monte, MG. Segundo os relatos, faleceu nos braços da tia Cornélia Guimarães Bahia, acometido de tuberculose/peste cinzenta. Morreu bem novo, creio que na década de 1940, após tratamentos em Belo Horizonte, MG. Ele foi vigário em Lagoa da Prata, MG, São Gotardo, MG e Santo Antonio do Monte, MG. Dizem que não realizou o seu grande desejo, que era ser pároco/padre em Bambuí, MG, sua terra natal. Eu tenho no meu computador (tenho que pesquisar isso!), a notícia de sua ordenação, segundo jornal de Bambuí da época, após os estudos no Colégio do Caraça, MG. Ele é nome de rua em Santo Antonio do Monte, MG, e nome de Escola Estadual em São Gotardo, MG.”
Sabemos mais de João Bahia da Rocha Filho, por ser ascendente de Ana Lúcia Bahia, nossa colaboradora. João casou-se com Marieta Magalhães em 28 de Outubro de 1918 em Bambuí, MG. Do casamento, nasceram os filhos: Maria Cândida em 1919, Laura em 1921, Maria de Lourdes em 1925, Sinfrônio Bahia da Rocha em 1927, Onofre Bahia da Rocha em 1932, João Evangelista Bahia em 1934, Lúcia Angélica em 1938 e José Vitório Bahia em 1941. Segundo José Aloise Bahia, “… o meu pai Sinfrônio Bahia da Rocha, filho de João Bahia da Rocha Filho e Marieta Magalhães Bahia, teve um outro irmão que não está no artigo acima. Trata-se de Pedro Bahia da Rocha, que veio a falecer na Infância. Meu querido pai, quase 90 anos, não soube precisar a data correta, mas acreditamos que Pedro Bahia da Rocha deve ter nascido no final da década de 1930.”
Assento de matrimonio de João Bahia da Rocha Filho. Na anotação feita no livro da Igreja de Santana do Bambuí, a noiva consta como Maria – um engano do escrivão. O pai de João foi testemunha da celebração: “1918 – João/Maria – Aos vinte e oito dias do mez de Outubro deste anno, assisti em Matrimônio os nubentes: João Bahia da Rocha, filho e Maria (Marieta) de Magalhães. Testemunhas João Bahia da Rocha e Manoel Bahia da Rocha”
Marieta era tetraneta de uma irmã de Tiradentes – Antônia Rita de Jesus Xavier – através de seu avô, o Capitão Joaquim Eliziário de Magalhães. Antônia veio com parte da família para Bambuí após a execução de Tiradentes.
A bisavó de Marieta, Maria Rita de Jesus Magalhães, era irmã do Padre Protásio Rodrigues Chaves, que por muitos anos foi Vigário em Bambuí. Consta que os dois irmãos acolheram soldados voluntários a caminho da Guerra do Paraguai, dando-lhes abrigo e comida. O local deste aquartelamento é hoje conhecido como Quartéis.
Nas palavras de Ana Lúcia Bahia: “João Bahia da Rocha Filho era professor de escola rural … Ele era filiado ao partido da UDN e sofria perseguição politica. Quando o partido rival ganhava, ele era designado a dar aulas nas roças mais distantes e paupérrimas. Passaram por muitas dificuldades financeiras. Muitos anos depois, meu avô com os filhos conseguiu montar uma padaria começando do nada, comprando um saco de farinha e vendendo os pães produzidos com esta farinha. Hoje esta padaria se chama São José e pertence a um primo. Meu tio João Evangelista Bahia era também politico, foi vereador em Bambui e se nao tivesse falecido antes seria canditado a prefeito. Faleceu jovem, aos 40 anos. Hoje a Câmara dos Vereadores de Bambuí tem o seu nome como homenagem.”
Em relato de Ana Lúcia sobre o que a mãe lhe contou, “Maria, sua cunhada (a primeira filha de João Bahia da Rocha Filho), gostava de contar muitas histórias da familia. Contava que quando era pequena ia visitar o avô Joao Bahia da Rocha na fazenda, mas se sentia constrangida porque era uma fazenda muito grande (acho que é a fazenda de Corrego D’anta porque a tia Maria falava que a fazenda era entre Bambuí e Campos Altos) e o avô fazia questão que ela se sentasse na mesa de jantar e ela morria de vergonha porque tudo era muito fino e chique. Esta é a mesma Maria Cândida, que ao se casar deixou de usar o ‘Cândida’, dizendo que nunca foi tão cândida assim.”
João A.M. Bahia Vianna
Dezembro/2015